Spurgeon
“Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim,
será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem” (João 10:9)
Meus irmãos, é um grande privilégio ter
pais cristãos. Isso pode ser uma grande vantagem, se você fizer uso correto
dela. Mas há nisso uma grande responsabilidade e, se você fizer mau uso dela,
em vez de ser uma bênção para você pode ser uma maldição temível. Você pode ser
um elo de uma longa linhagem de santos; “se alguém não nascer de novo, não pode
ver o reino de Deus” (João 3:3). O exemplo mais consagrado, a formação mais
espiritual não pode garantir a conversão e, sem conversão, você pode apostar
nisso, você não pode ser de Cristo. “Se não vos converterdes e não vos
tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mateus
18:3). Por não praticarmos o batismo de crianças, não caímos tão facilmente
neste erro como outras denominações, mas é necessário dizer também aqui que
você não tem direito aos privilégios do evangelho devido aos seus pais e mães.
Vocês mesmos precisam ter nascido de novo. Vocês não têm direito à aliança da
graça, nem às suas bênçãos de promessas, se não vier a Cristo por sua fé
pessoal e individual. Nem seu pai nem sua mãe podem ser a porta para a igreja
de Cristo, só o próprio Cristo. Ele disse: “Eu sou a porta”. Se você tem Cristo, você está em sua igreja. Se
você se prender a Cristo, você é membro dessa comunidade secreta e invisível
dos seus eleitos e redimidos. Nunca por batismo ou por direito de nascença.
Além disso, como Cristo é a porta, é
evidente que ninguém se torna membro da igreja de Cristo simplesmente dizendo
que é. Ele pode acabar se revelando um hipócrita detestável, mas não pode se
revelar um cristão genuíno por mera profissão de fé. Ninguém fica rico neste
mundo esbanjando dinheiro ou dizendo que é abastado. É preciso guardar bem as
escrituras das propriedades e guardar o dinheiro no cofre, senão todo o
faz-de-conta não esconde a pobreza. Você não pode tornar-se cristão vindo à
frente e pedindo para ser admitido na igreja, declarando que crê e jurando que
se arrepende. Não, você precisa se arrepender de verdade, ou perecerá; você
precisa crer de verde, ou não terá parte nem porção nesta questão. Simplesmente
dizer: “Sim, sim, estou disposto a afirmar isto, concordo em dizer aquilo” faz
de você um cristão tanto como dizer que algodão é seda transforma o algodão
nisso, ou fazer ouro de lama mudando o nome desta. Tome cuidado com afirmações
falsas porque elas trazem duas consequências perigosas. A pessoa que não está
debaixo da graça está em perigo, mas aquela que afirma tê-la quando não a tem
está duplamente em perigo, porque é menos provável que seja despertado, e está
fazendo da sua convicção um travesseiro para sua cabeça perversa e adormecida,
no qual ele descerá dormindo para o inferno.
Depois, e talvez isso chegue mais ainda
ao ponto, ninguém se torna parte do povo do Senhor ou uma das ovelhas de Cristo
por ser admitido em uma igreja visível. Não deve tentar entrar em uma igreja
visível quem não faz parte da igreja verdadeira. Ele não tem o direito de
juntar-se à organização externa se não se agregou primeiro à união secreta,
através de uma fé viva em Cristo. Quem dá a volta pela porta e pula o muro,
entrando na igreja exterior sem ser crente em Cristo, longe de ser salvo,
Cristo vai dizer-lhe: “Você é ladrão e roubador, porque você subiu por outro
lugar, sem passar pela porta”. Eu creio que agimos corretamente ao submetermos
a admissão de membros à voz de toda a igreja; creio que agimos certos ao
examinarmos os candidatos, para verificar se é possível crer em sua profissão
de fé e se sabem o que estão fazendo. Porém nossa avaliação – ela não é mais
profunda que a pele. Não podemos sondar o coração, e o melhor de muitos homens
cristãos, por mais honestos e merecedores de grande respeito que sejam, é uma
muito pobre para alguém se apoiar. Se você não tem Cristo, seus certificados da
igreja são papel para o lixo e sua associação com quaisquer pessoas, por mais
puras e apostólicas que possam ser, é só um nome pelo qual viver, enquanto você
está morto, porque a única maneira de entrar na igreja real, vital, viva de
Cristo é voltando-se para Cristo que, Ele mesmo, é a porta. (continua)
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