Jonathan Edwards
“Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar
este corpo, para habitar com o Senhor.” (2Coríntios 5:8)
IV. A alma do cristão desfruta um
intercurso e convivência gloriosas e imediatas com Cristo.
Enquanto
estamos presentes com os nossos amigos, temos oportunidade de convivência livre
e imediata com eles, a qual não temos quando ausentes. Então, por causa do
intercurso muito mais livre, perfeito e imediato com Cristo que os santos
desfrutam quando ausentes do corpo, eles são representados adequadamente a
estar presentes com Ele.
O
intercurso mais íntimo torna-se a relação na qual os santos se firmam em Jesus
Cristo, e sobretudo torna-se a reunião perfeita e gloriosa para a qual eles
serão levados com Ele no céu. Eles não são meramente seus servos, mas seus
amigos, irmãos e companheiros; sim, eles são o Cônjuge de Cristo. Eles são os
esposados ou noivos de Cristo enquanto no corpo, mas quando vão para o céu,
chega a hora do casamento com Ele, e o Rei leva-os para o seu palácio. Cristo,
quando estava neste mundo, conversou da maneira mais amigável com os discípulos
e permitiu que um deles se inclinasse no seu peito, mas eles terão a permissão
muito mais completa e livre de conversar com Ele no céu.
Embora
Cristo esteja ali num estado de exaltação gloriosa, reinando na majestade e
glória do soberano Senhor e Deus do céu e da terra, dos anjos e homens, contudo
esta condição não impedirá a intimidade e liberdade do intercurso, mas, antes,
a promoverá. Ele foi exaltado, não só para si mesmo, mas para eles. Ele é o
Cabeça sobre todas as coisas no interesse deles, para que eles sejam exaltados
e glorificados; e, quando eles forem para o céu, onde Ele está, eles serão
exaltados e glorificados com Ele e não serão mantidos a maior distância. Eles
estarão indizivelmente mais aptos para esta situação, e Cristo estará em
circunstâncias mais adequadas para lhes dar esta bem-aventurança.
A
visão da grande glória do seu Amigo e Redentor não vai infundir-lhes temor respeitoso
e mantê-los a certa distância, deixando-os com medo de se aproximarem; mas,
pelo contrário, com mais vigor os atrairá, os animará e os enredará à liberdade
santa. Eles saberão que Ele é o seu Redentor e Amigo amado, o mesmo que os amou
com um amor agonizante e, pelo seu sangue, os remiu para Deus. “Sou eu; não
temais” (Mateus 14:27). “Não temas; eu sou [...] o que vive; fui morto, mas eis
aqui estou vivo” (Apocalipse 1:17,18). A natureza desta glória de Cristo que
eles verão será tamanha que os atrairá e os encorajará, pois eles não só verão
a majestade e grandeza infinitas, mas também a graça, condescendência,
gentileza e doçura infinitas, iguais à sua majestade. Ele aparece no céu como
“o Leão da tribo de Judá” (Apocalipse 5.5), e também como “o Cordeiro que está
no meio do trono.” Este Cordeiro será o pastor que “os apascentará e lhes
servirá de guia para as fontes das águas da vida” (Apocalipse 7:17).
A
visão da majestade de Cristo não lhes causará terror, mas só servirá para
exalçar o prazer e a surpresa. Quando Maria Madalena estava a ponto de abraçar
Jesus, cheia de alegria por vê-Lo vivo depois da crucificação, Jesus proibiu-a
que o fizesse naquele momento, porque Ele ainda não havia ascendido. “Disse-lhe
Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)!
Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai
para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e
vosso Deus” (João 20:16,17). Foi como se Ele tivesse dito: “Não é este o tempo
e o lugar para essa liberdade que o teu amor deseja de mim. Isso está designado
para o céu, depois de minha ascensão. Eu vou para lá, e tu que és minha
verdadeira discípula deves, assim como meus irmãos e companheiros, logo estar
lá comigo na minha glória.” Esse é o lugar designado para as expressões mais
perfeitas de complacência e estima. Por conseguinte, os santos no céu encontram
Jesus manifestando essas riquezas infinitas de amor para com eles, as quais Ele
sentia desde a eternidade; e eles são capazes de expressar o amor que têm por
Ele de uma maneira infinitamente melhor do que quando estavam no corpo. Assim,
eles serão eternamente envolvidos pelos raios incalculavelmente luminosos,
brandos e doces do amor divino, recebendo eternamente a luz e para sempre
refletindo-a para a fonte.
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