domingo, 3 de março de 2013

Os Mortos Bem-aventurados (4)




 Jonathan Edwards
“Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor.” (2Coríntios 5:8)


IV. A alma do cristão desfruta um intercurso e convivência gloriosas e imediatas com Cristo.
         Enquanto estamos presentes com os nossos amigos, temos oportunidade de convivência livre e imediata com eles, a qual não temos quando ausentes. Então, por causa do intercurso muito mais livre, perfeito e imediato com Cristo que os santos desfrutam quando ausentes do corpo, eles são representados adequadamente a estar presentes com Ele.
         O intercurso mais íntimo torna-se a relação na qual os santos se firmam em Jesus Cristo, e sobretudo torna-se a reunião perfeita e gloriosa para a qual eles serão levados com Ele no céu. Eles não são meramente seus servos, mas seus amigos, irmãos e companheiros; sim, eles são o Cônjuge de Cristo. Eles são os esposados ou noivos de Cristo enquanto no corpo, mas quando vão para o céu, chega a hora do casamento com Ele, e o Rei leva-os para o seu palácio. Cristo, quando estava neste mundo, conversou da maneira mais amigável com os discípulos e permitiu que um deles se inclinasse no seu peito, mas eles terão a permissão muito mais completa e livre de conversar com Ele no céu.
         Embora Cristo esteja ali num estado de exaltação gloriosa, reinando na majestade e glória do soberano Senhor e Deus do céu e da terra, dos anjos e homens, contudo esta condição não impedirá a intimidade e liberdade do intercurso, mas, antes, a promoverá. Ele foi exaltado, não só para si mesmo, mas para eles. Ele é o Cabeça sobre todas as coisas no interesse deles, para que eles sejam exaltados e glorificados; e, quando eles forem para o céu, onde Ele está, eles serão exaltados e glorificados com Ele e não serão mantidos a maior distância. Eles estarão indizivelmente mais aptos para esta situação, e Cristo estará em circunstâncias mais adequadas para lhes dar esta bem-aventurança.
         A visão da grande glória do seu Amigo e Redentor não vai infundir-lhes temor respeitoso e mantê-los a certa distância, deixando-os com medo de se aproximarem; mas, pelo contrário, com mais vigor os atrairá, os animará e os enredará à liberdade santa. Eles saberão que Ele é o seu Redentor e Amigo amado, o mesmo que os amou com um amor agonizante e, pelo seu sangue, os remiu para Deus. “Sou eu; não temais” (Mateus 14:27). “Não temas; eu sou [...] o que vive; fui morto, mas eis aqui estou vivo” (Apocalipse 1:17,18). A natureza desta glória de Cristo que eles verão será tamanha que os atrairá e os encorajará, pois eles não só verão a majestade e grandeza infinitas, mas também a graça, condescendência, gentileza e doçura infinitas, iguais à sua majestade. Ele aparece no céu como “o Leão da tribo de Judá” (Apocalipse 5.5), e também como “o Cordeiro que está no meio do trono.” Este Cordeiro será o pastor que “os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida” (Apocalipse 7:17).
         A visão da majestade de Cristo não lhes causará terror, mas só servirá para exalçar o prazer e a surpresa. Quando Maria Madalena estava a ponto de abraçar Jesus, cheia de alegria por vê-Lo vivo depois da crucificação, Jesus proibiu-a que o fizesse naquele momento, porque Ele ainda não havia ascendido. “Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Raboni (que quer dizer Mestre)! Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (João 20:16,17). Foi como se Ele tivesse dito: “Não é este o tempo e o lugar para essa liberdade que o teu amor deseja de mim. Isso está designado para o céu, depois de minha ascensão. Eu vou para lá, e tu que és minha verdadeira discípula deves, assim como meus irmãos e companheiros, logo estar lá comigo na minha glória.” Esse é o lugar designado para as expressões mais perfeitas de complacência e estima. Por conseguinte, os santos no céu encontram Jesus manifestando essas riquezas infinitas de amor para com eles, as quais Ele sentia desde a eternidade; e eles são capazes de expressar o amor que têm por Ele de uma maneira infinitamente melhor do que quando estavam no corpo. Assim, eles serão eternamente envolvidos pelos raios incalculavelmente luminosos, brandos e doces do amor divino, recebendo eternamente a luz e para sempre refletindo-a para a fonte.

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