sábado, 2 de março de 2013

Os Mortos Bem-aventurados (3) (continuação)




Sermão de Jonathan Edwards
“Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor.” (2Coríntios 5:8)

II. A alma do cristão vai habitar à vista imediata, plena e constante de Cristo.
         Quando estamos ausentes de nossos queridos amigos, eles estão-nos fora de vista, mas quando estamos com eles, temos a oportunidade e satisfação de vê-los. Enquanto os santos estão no corpo e ausentes do Senhor, sob vários aspectos Ele está fora da nossa vista. “O qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” (1Pe 1:8). Eles têm neste mundo uma visão espiritual de Cristo, mas vêem “por espelho em enigma” e com grandes interrupções; mas no céu eles o veem “face a face.” São bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus. A visão beatífica que eles têm de Deus está em Cristo, que é o brilho ou fulgência da glória de Deus, pela qual a sua glória brilha no céu, à vista dos santos e anjos lá como também aqui na terra. Este é o Sol da Justiça, que não só é a luz deste mundo, mas também o sol que ilumina a Jerusalém celestial, por cujos raios luminosos a glória de Deus brilha, para a iluminação e felicidade de todos os habitantes gloriosos. “A glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Apocalipse 21:23) Ninguém vê Deus Pai imediatamente. Ele é o Rei eterno, imortal, invisível. Cristo é a imagem desse Deus invisível pela qual Ele é visto por todas as criaturas eleitas. O Filho unigênito que está no seio do Pai, Ele O declarou e O manifestou.
         Ninguém jamais viu o Pai, somente o Filho; e ninguém mais vê o Pai de outro modo senão pela revelação que o Filho faz Dele. No céu, os espíritos dos justos tornados perfeitos veem-No como Ele é. Eles veem a Sua glória. Eles veem a glória da Sua natureza divina, que consiste em toda a glória da deidade, a beleza de todas as Suas perfeições; a Sua grande majestade e poder Todo-poderoso; a Sua sabedoria, santidade e graça infinitas. Eles veem a beleza da Sua natureza humana glorificada e a glória que o Pai Lhe deu, como Deus-Homem e Mediador. Para este fim, Jesus desejou que os santos estivessem com Ele, para que vissem a Sua glória.
         Quando a alma do santo deixa o corpo para ir estar com Cristo, ela vê a glória da obra de Redenção que “os anjos desejam bem atentar.” Os santos no céu têm a visão mais clara da profundidade insondável da sabedoria e conhecimento de Deus e das demonstrações mais brilhantes da pureza e santidade de Deus que aparecem nessa obra. Eles veem de uma maneira muito mais clara do que os santos aqui “qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento” (Ef 3:18,19). Assim como eles veem as riquezas e a glória indizíveis da graça de Deus, eles entendem claramente o amor eterno e imensurável de Cristo por eles em particular. Em resumo, eles veem tudo em Cristo, o que tende a acender e satisfazer o amor da maneira mais clara e gloriosa, sem escuridão ou ilusão, sem impedimento ou interrupção. Agora os santos, enquanto no corpo, veem um pouco da glória e do amor de Cristo; como nós, no alvorecer da manhã, vemos um pouco da luz refletida do sol misturada com a escuridão. Mas quando separados do corpo, eles veem o Redentor glorioso e amoroso, assim como vemos o sol quando ele está acima do horizonte, pelos seus raios diretos num hemisfério claro e com dia perfeito.

III. A alma do cristão é levada a uma conformidade perfeita com Cristo e união com Ele.

         A sua conformidade espiritual começou enquanto a alma estava no corpo. Aqui, “refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, [ela é transformada] de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2Co 3:18). Mas quando a alma do cristão vai vê-lo como Ele é no céu, então torna-se como Ele em outro modo. Essa visão perfeita aniquilará todos os restos da deformidade e dessemelhança pecadora, assim como toda a escuridão é aniquilada diante do pleno resplendor da luz meridiana do sol. É impossível que o menor grau de obscuridade permaneça diante de tal luz; assim, é impossível que o menor grau de pecado e deformidade espiritual permaneça diante de tamanha visão da beleza espiritual e glória de Cristo, como a que os santos desfrutam no céu. Quando veem o Sol da Justiça sem nuvens, eles mesmos brilham como o sol e serão como sóis sem mancha. Então Cristo apresenta os santos para si mesmo em beleza gloriosa, “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efésios 5:27), e tendo santidade sem mancha. Então a união deles com Cristo é aperfeiçoada. Esse processo também é iniciado neste mundo. A união relativa é iniciada e aperfeiçoada imediatamente quando a alma aceita Jesus pela fé. A verdadeira união, que consiste na união do coração e do afeto, é iniciada neste mundo e aperfeiçoada no seguinte.
         A união do coração do crente com Cristo é iniciada quando o coração é atraído a Cristo pela descoberta primeira da sua excelência divina na conversão. Consequente a isto, é estabelecido uma união vital com Cristo por meio da qual o crente se torna um ramo vivo da videira verdadeira, vivendo pela comunicação da seiva e líquido vital do tronco e da raiz; um membro do Corpo místico de Cristo, que vive pela comunicação das influências vitais e espirituais da cabeça e pela participação da própria vida de Cristo. Mas, enquanto os santos estão no corpo, há grande distância remanescente entre Cristo e eles. A união vital é muito imperfeita e, assim, é a comunicação da vida espiritual e da influência vital. Há muito entre Cristo e os crentes que os mantêm separados, muito pecado residente; muita tentação; um corpo de molde pesado e delicado; e um mundo de objetos carnais para manter afastada a alma de Cristo e dificultar uma coalescência perfeita. Mas quando a alma deixa o corpo, todos estes impedimentos são removidos. Todo muro de separação é derrubado, todo impedimento é retirado do caminho e toda a distância acaba; o coração é completa e perfeitamente atraído e firme e eternamente unido a Cristo mediante uma visão perfeita da sua glória. A união vital é levada à perfeição. A alma vive perfeitamente em Cristo, sendo perfeitamente cheia com o seu Espírito e animada pela sua influência vital, vivendo como se fosse somente pela vida de Cristo, sem qualquer lembrança da morte espiritual ou da vida carnal.

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