George
Whitefield
“E
curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando
não há paz.’ (Jeremias 6:14)
E ainda mais: antes de
poder falar de paz aos vossos corações, não só deveis estar compungidos pelos
pecados. Na vossa vida, os pecados da vossa natureza, mas também pelos pecados
dos vossos melhores deveres e obras. Quando uma pobre alma desperta um pouco
pelos terrores do Senhor, então a pobre criatura, tendo nascido sob o pacto das
obras, voa outra vez a ele. E assim como Adão e Eva se esconderam entre as
árvores do jardim, e coseu folhas de figueira para cobrir a sua nudez, o pobre
pecador, ao despertar, voa para os seus deveres e para as suas obras, para
esconder-se de Deus, e trata de coser uma justiça própria. Diz: agora serei
muito bom —reformar-me-ei— farei tudo o que esteja ao meu alcance; e certamente
assim Jesus Cristo terá misericórdia de mim. Mas antes de poder falar de paz ao
seu coração, tem de chegar ao ponto de ver que Deus pode condená-lo até pela
melhor oração que tenha elevado; tem de chegar a compreender que todos seus
deveres —toda a sua justiça— como o expressa elegantemente o profeta— todo isso
junto, dista tanto de recomendá-lo a Deus, dista tanto de ser um motivo e
incentivo para que Deus tenha misericórdia da sua pobre alma, que os verá, como
trapos sujos, panos menstruais —que Deus os odeia e não pode tirar-lhos se os
apresenta como uma recomendação a seu favor.
Meus queridos amigos, o que pode haver em nossas obras para
recomendar-nos a Deus? A nossa pessoa encontra-se, por natureza, num estado não
justificado, merecemos ser condenados dez mil vezes e mais; e o que são as
nossas obras? Por natureza, não podemos fazer nada bom; ‘Os que andam conforme
à carne não podem agradar a Deus.’ Alguém pode realizar coisas materialmente
boas, mas não pode fazer nada bom que seja contado para justiça porque a
natureza não pode atuar contra si mesma. É impossível que o homem inão
convertido possa atuar para a glória de Deus; não pode fazer nada por fé, e ‘e
o que não se obra por fé é pecado.’ Depois de sermos renovados, na verdade
somos renovados sozinho em parte, o pecado continua morando em nós. Há uma
mescla de corrupção em cada um dos nossos deveres de maneira que depois de nos
havermos convertido, se é que Jesus Cristo nos aceitasse peloas nossas obras,
as nossas obras nos condenariam, porque não podemos elevar uma oração que
esteja dentro da perfeição que a lei moral exige. Não sei que o pensareis vós,
mas eu não posso orar sem pecar, não posso pregar-vos a vós nem a ninguém mais
sem pecar, não posso fazer nada sem pecado, e, como alguém o expressou, o meu
arrependimento quer arrepender-se e as minhas lágrimas querem ser lavadas no
precioso sangue do meu querido Redentor. As nossos melhores obras não são mais
do que pecados esplêndidos.
Antes de poder falar de paz aos vossos corações, necessitais
não só de odiar o vosso pecado original e os pecados que de fato cometeis, mas
deveis odiar a vossa própria justiça, todos os vossos deveres e obras. Tem de
haver uma convicção profunda antes que se vos possa tirar o vosso farisaísmo; é
o último ídolo que vos é tirado dos vossos corações. O orgulho do nosso coração
não nos deixa submeter-nos à justiça de Jesus Cristo. Mas se nunca sentistes
que não contáveis com uma justiça própria, se nunca sentistes a deficiência da
vossa própria justiça, não vos acercastes a Jesus Cristo. Há muitos que diriam:
Bom, nós cremos tudo isto; mas há uma grande diferença entre dizer e sentir.
Alguma vez haveis sentido vós que quereis um amante Redentor? Haveis sentido
alguma vez a necessidade de Jesus Cristo, conscientes da deficiência da vossa
própria justiça? E podeis dizer agora de coração: Senhor, podes na Tua justiça
condenar-me pelas melhores obras que jamais realize? Se não deixardes de lado o
eu, podeis falar a vós mesmos de paz, mas não tendes paz.
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