quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O MÉTODO DA GRAÇA (4)




George Whitefield
“E curam superficialmente a ferida da filha do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.’ (Jeremias 6:14)

E ainda mais: antes de poder falar de paz aos vossos corações, não só deveis estar compungidos pelos pecados. Na vossa vida, os pecados da vossa natureza, mas também pelos pecados dos vossos melhores deveres e obras. Quando uma pobre alma desperta um pouco pelos terrores do Senhor, então a pobre criatura, tendo nascido sob o pacto das obras, voa outra vez a ele. E assim como Adão e Eva se esconderam entre as árvores do jardim, e coseu folhas de figueira para cobrir a sua nudez, o pobre pecador, ao despertar, voa para os seus deveres e para as suas obras, para esconder-se de Deus, e trata de coser uma justiça própria. Diz: agora serei muito bom —reformar-me-ei— farei tudo o que esteja ao meu alcance; e certamente assim Jesus Cristo terá misericórdia de mim. Mas antes de poder falar de paz ao seu coração, tem de chegar ao ponto de ver que Deus pode condená-lo até pela melhor oração que tenha elevado; tem de chegar a compreender que todos seus deveres —toda a sua justiça— como o expressa elegantemente o profeta— todo isso junto, dista tanto de recomendá-lo a Deus, dista tanto de ser um motivo e incentivo para que Deus tenha misericórdia da sua pobre alma, que os verá, como trapos sujos, panos menstruais —que Deus os odeia e não pode tirar-lhos se os apresenta como uma recomendação a seu favor.
         Meus queridos amigos, o que pode haver em nossas obras para recomendar-nos a Deus? A nossa pessoa encontra-se, por natureza, num estado não justificado, merecemos ser condenados dez mil vezes e mais; e o que são as nossas obras? Por natureza, não podemos fazer nada bom; ‘Os que andam conforme à carne não podem agradar a Deus.’ Alguém pode realizar coisas materialmente boas, mas não pode fazer nada bom que seja contado para justiça porque a natureza não pode atuar contra si mesma. É impossível que o homem inão convertido possa atuar para a glória de Deus; não pode fazer nada por fé, e ‘e o que não se obra por fé é pecado.’ Depois de sermos renovados, na verdade somos renovados sozinho em parte, o pecado continua morando em nós. Há uma mescla de corrupção em cada um dos nossos deveres de maneira que depois de nos havermos convertido, se é que Jesus Cristo nos aceitasse peloas nossas obras, as nossas obras nos condenariam, porque não podemos elevar uma oração que esteja dentro da perfeição que a lei moral exige. Não sei que o pensareis vós, mas eu não posso orar sem pecar, não posso pregar-vos a vós nem a ninguém mais sem pecar, não posso fazer nada sem pecado, e, como alguém o expressou, o meu arrependimento quer arrepender-se e as minhas lágrimas querem ser lavadas no precioso sangue do meu querido Redentor. As nossos melhores obras não são mais do que pecados esplêndidos.
         Antes de poder falar de paz aos vossos corações, necessitais não só de odiar o vosso pecado original e os pecados que de fato cometeis, mas deveis odiar a vossa própria justiça, todos os vossos deveres e obras. Tem de haver uma convicção profunda antes que se vos possa tirar o vosso farisaísmo; é o último ídolo que vos é tirado dos vossos corações. O orgulho do nosso coração não nos deixa submeter-nos à justiça de Jesus Cristo. Mas se nunca sentistes que não contáveis com uma justiça própria, se nunca sentistes a deficiência da vossa própria justiça, não vos acercastes a Jesus Cristo. Há muitos que diriam: Bom, nós cremos tudo isto; mas há uma grande diferença entre dizer e sentir. Alguma vez haveis sentido vós que quereis um amante Redentor? Haveis sentido alguma vez a necessidade de Jesus Cristo, conscientes da deficiência da vossa própria justiça? E podeis dizer agora de coração: Senhor, podes na Tua justiça condenar-me pelas melhores obras que jamais realize? Se não deixardes de lado o eu, podeis falar a vós mesmos de paz, mas não tendes paz.

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