“E ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o caminho santo; o imundo não passará por ele, pois será somente para o seu povo; quem quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o louco” (Isaías 35:8).
INTRODUÇÃO:
Se existe um esporte que jamais arriscaria praticar seria o alpinismo. Gosto de ver os desafios que eles encontram e a coragem com que persistentemente enfrentam para vencer as alturas e alcançar o seu objetivo, mas jamais enfrentaria um desafio desses, especialmente porque tenho medo de alturas.
O caminho pelo qual percorre os servos da justiça é, de certa forma, semelhante ao dos alpinistas, caminho cheio de perigos e de grandes desafios. A carreira cristã não é trilhada num belo e fácil caminho; nada tem a ver com os sonhos e fantasias das imaginações e aspirações mundanas. Sem a orientação da Palavra de Deus o crente pode ser pego pelos enganos da carne, do diabo e do mundo.
O capítulo 35 de Isaías trata de uma gloriosa promessa da salvação que Deus traria aos pecadores por meio do Seu Filho. Essa salvação proporcionaria uma nova vida, nova direção para o povo de Deus que caminharia rumo a um destino eterno de glória. Notemos que na carta aos Hebreus, o escritor toma o verso 3 do capítulo acima mencionado para estimular, encorajar aqueles crentes hebreus a persistirem pela fé a carreira no caminho certo: “Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos” (Hebreus 12:12).
Somos ensinados na passagem de Isaías a respeito de um caminho diferente pelo qual estamos andando. A conversão a Cristo mudou nosso itinerário. Antes seguíamos o curso deste mundo, andando cegos, a esmo, rumo à perdição eterna. Fomos chamados para seguir a Cristo no caminho certo, sabendo para onde estamos indo, e seguros na liderança do nosso Guia (Salmo 48:14)
Devemos conhecer o caminho pelo qual andam os que foram chamados a servir a justiça, porque muitos crentes ficam assustados diante dos perigos, disciplinas e dificuldades. O verso acima citado afirma que “... o louco não andará...” por esse caminho. Muitos são aqueles que acham que se tornaram crentes, mas não demora muito para descobrirem que o caminho dos verdadeiros crentes não serve para eles, então voltam para o meio da multidão que percorre o caminho largo. No meio daquele povo santo que fora tirado do Egito pela mão poderosa do Senhor, havia um povo cujo coração não pertencia ao Deus de Israel, por isso estavam sempre tentando a Deus e dispostos a voltar para o Egito.
O propósito deste estudo é justamente mostrar aos sinceros crentes, que o caminho por onde andamos é o bom caminho, e seguros nessa verdade, estarmos com nossas mãos fortalecidas e nossos joelhos espirituais fortes para prosseguirmos perseverantes a nossa jornada até nosso lar celestial.
1. CAMINHO DE SANTIDADE.
Fomos chamados pelo Deus Santo para sermos um povo santo. Pedro diz na sua
primeira carta: “Mas segundo é santo aquele que vos chamou, sede santos em toda vossa maneira de viver” (1Pedro 1:15). A vida de um justo é caracterizada pela santidade. A ênfase a respeito disso é grande nas Escrituras, especialmente porque Deus quer que isso seja levado a sério por Seus filhos. Ser santo não é uma opção de
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vida para um crente, mas sim algo normal em seu modo de viver, porque tendo nascido de novo recebeu de Deus uma natureza santa.
SEU SIGNIFICADO
O que significa santidade? O sentido literal do termo “santo” é “ser separado”. Temos ilustrações claras a respeito disso em nosso cotidiano. Num casamento os cônjuges separam-se um para o outro. Quando compramos algo de valor é para que aquilo passe a pertencer a nós. Podemos dizer que o carro que comprei é “santo” para meu uso.
SUA IMPORTÂNCIA
É exatamente isso que Pedro transmite a nós em sua carta no cap. 1. Notemos ali como Ele ressalta a importância de que somos individualmente pertencentes exclusivamente a Deus: “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram” (1Pedro 1:18). O que está sendo ensinado nesse verso é algo que deve chamar nossa atenção, especialmente pelo fato que somos por natureza tendenciosos à ingratidão. Não pagamos nada pela nossa salvação; não custou absolutamente nada de nossa parte para que fôssemos remidos da triste condição onde estávamos. O trabalho foi do coração amoroso de Deus; o sacrifício foi do Cordeiro puro e sem mácula (verso 19). Sendo assim o povo crente deve ser acima de tudo, um povo grato, temente, obediente e submisso ao Senhor que lhe resgatou com preço de sangue.
SEU SENTIDO NEGATIVO
Obviamente, o que é positivo tem o seu lado negativo. A Bíblia apresenta tanto um como o outro, e ambos têm sua devida importância. A verdadeira santidade conforme apresentada nas Escrituras subentende que haveremos de amar o bem e odiar o mal (Romanos 12:9). Voltando à carta de 1Pedro no cap.1, vemos ali como o escritor sagrado ensina esse aspecto negativo da santidade: “Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância” (1:14).
Somos ensinados que temos que lançar fora os instrumentos de maldade do nosso antigo viver. Tudo aquilo que anteriormente era motivo de paixões egoístas, de um viver corrompido na idolatria, conforme os padrões mundanos devem ser abandonados pelo crente. Não temos nenhuma dívida para com a carne, nem para com o mundo. Éramos escravos dos vícios e de todo tipo de práticas ímpias, mas agora somos um povo libertado pela verdade do evangelho da glória de Cristo. Paulo também trata a respeito disso em Romanos 13:14: “Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”.
Quanta necessidade tem hoje de crentes que estão dispostos a não se contaminar com os prazeres e mentiras deste sistema mundano! Como o Salmista diz, vemos a falta de homens piedosos (Salmo 12:1). Não é fácil renunciar os anelos da carne e deste mundo, porquanto custa sacrifício. Mas negar a si mesmo e negar agradar a carnalidade mundana deve ser a atividade constante daquele que afirma ser crente, tendo em vista glorificar o Senhor no seu viver. Não foi fácil para o jovem José dar o testemunho de uma vida santa ali na casa de Potifar (Gênesis 39), mas é dito que o Senhor estava com José. Depois da longa provação aquele moço foi elevado à posição honrosa de governador do Egito.
Se quisermos ser úteis nesta vida, servindo ao Senhor como servos da justiça, requer que tomemos a firme decisão de continuamente nos separar do mal, do vício e de toda idolatria, a fim de sejamos instrumentos de bênçãos nas mãos do Senhor. O verdadeiro crente deve estar apto e pronto para isso, separando-se de toda sujeira da carne a fim de agradar seu Senhor.
SEU SENTIDO POSITIVO
A vida de santidade é mais do que tudo algo positivo. As heresias promovem uma idéia errônea e antibíblica acerca da santidade, mostrando uma caricatura da verdadeira santidade, conforme nos é ensinada na Palavra de Deus. A vida cristã conforme o padrão bíblico não é arredia, horrível e assustadora, pelo contrário, a vida santa traz consigo segurança, respeito, temor e acima de tudo um ambiente propício para que a verdade do evangelho atinja corações de pecadores. É claro que também atrai o ódio mortal de muitos que estão endurecidos contra Deus e que querem continuar transitando em seus maus caminhos. A perversa Herodias não podia tolerar a presença santa e justa de João Batista, porque incomodava sua consciência adúltera.
Definindo, santidade é a vida cristã normal; é a maneira como deve viver cada pessoa que afirma ser crente em Cristo. A ausência de um viver separado tendo em vista agradar a Deus em cada detalhe da vida não é cristianismo bíblico. Santidade não é uma opção de vida do crente, mas sim aquilo que o verdadeiro crente respira, fala, anda, faz, pensa, sente etc. É de se esperar que o cada crente tenha prazer em buscar santidade e crescer em santidade cada dia. O Espírito que habita no crente é Santo, segue-se que Ele há de guiar o salvo pela vereda da santidade, conforme Ele mesmo ensina em Sua Palavra. Vamos nos ocupar agora em ver os aspectos positivos da santidade.
1) PIEDADE: “Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pedro 1:16)
O mais glorioso resultado da santidade é uma vida piedosa. “Piedade” é um termo muito comum na Bíblia. Significa “temor reverente a Deus no íntimo”, que se manifesta em obediência, adoração e contínuo culto ao Senhor. Em Tito 2:12 essa palavra figura-se como um destaque no viver daquele que se separa das paixões mundanas. Uma vida piedosa ocupa-se em agradar a Deus em obediência naquilo que Ele ensina em Sua Palavra. Uma vida piedosa não age cegamente; não cria um sistema legalista no viver baseado naquilo que os homens querem. Piedade é um estilo de vida que se submete à orientação de Deus e que em nada cede aos caprichos da carne e do mundo.
Cada crente pode e deve crescer em piedade, tomando decisões firmes pela fé em querer agradar seu Senhor em todos os aspectos da vida. Conforme o verso de I Pedro 1:16 a nossa disposição em tomar o rumo da santidade é porque aquele em quem cremos é Santo. Simples! Se alguém perguntar ao crente por que ele vive como vive, tão diferente, tão alegre, tão separado da sujeira deste mundo, a sua resposta deve ser “O meu Deus é santo”.
2) COMPAIXÃO: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Colossenses 3:12).
Precisamos saber que a santidade nos afasta da impiedade mundana (Tito 2:12), mas não da sociedade. Não fomos chamados para viver segregados como anacoretas, mas sim para que funcionemos como sal e como luz (Mateus 5:13,14). Como “sal”, entramos no meio deste mundo para preservar a sociedade da podridão do pecado. Onde os verdadeiros crentes estiverem ali a maldade do pecado não entra. Como “luz”, Deus nos colocou no meio da escuridão a fim de que a verdade a respeito de Deus, de Sua salvação, da Sua justiça e do Seu juízo seja conhecida perante os homens (1pedro 2:9).
Uma pessoa santa não olha seus semelhantes com ódio e desdém, pelo contrário, ele encara as pessoas com misericórdia. Ele contempla-as com pleno interesse em que elas conheçam o Deus que usou de misericórdia em seu viver. Com tristeza vê as almas presas ao pecado e escravas do diabo, desejando que elas sejam libertas, por isso aquele que é santo é simpático e empático ao tratar com as almas de homens e mulheres que lhe cercam diariamente. É claro que devemos fugir de qualquer ambiente onde o propósito é praticar atos carnais, profanos e libidinosos. Mas a santidade bíblica não é dominada pelo ambiente onde se trabalha, visita, estuda etc., ela é que domina e que irradia o ambiente da beleza de Cristo.
3) AMOR: “O amor seja sem hipocrisia, detestai o mal e apegai-vos ao bem” (Romanos 12:9).
A santidade traz a lume o verdadeiro amor. O amor tão apregoado hoje, até mesmo nos meios evangélicos, não passa de um sentimentalismo oco. O amor natural não provém de corações puros e santificados pela graça. O amor santo é corajoso, audaz, sacrificial e busca incessantemente o bem espiritual, físico e mental do seu próximo. Quando o homem anda com Deus ele está qualificado para amar seus semelhantes. Os verdadeiros crentes são os únicos que podem evidenciar o amor de Cristo dentro da igreja e fora dela.
2. CAMINHO DE LUTA
Uma das características do caminho largo é que é um caminho de lutas e provações. Muitos são aqueles que andam nele, mas desconhecem a guerra contra o mal. Satanás não luta contra aqueles que descem rumo à perdição eterna, eles estão em paz com o mundo e com o diabo. Não há um mar revoltoso contra eles; desconhecem o que significa lutas e provações. O caminho rumo ao inferno é como aquela vereda que Ló tomou com sua família em direção a Sodoma e Gomorra: “bem regada... como o jardim do Senhor...” (Gênesis 13:10).
Aqueles que foram chamados para trilhar o caminho estreito rumo ao céu, são os que conhecem seus inimigos. Deus não conduziu Israel para a terra prometida, tomando um caminho belo, agradável e cheio de conforto. Pelo contrário, o Senhor conduziu seu povo: “... por aquele grande e terrível deserto de serpentes abrasadoras, de escorpiões e de secura, em que não havia água; e te fez sair água da pederneira”. Por que Deus fez isso com Seu Povo? A resposta é simples: “Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem” (Deuteronômio 8:3).
A caminhada daquele povo que foi libertado do Egito para ser estabelecido em Canaã, serve como ilustração da caminhada do crente para o céu. A primeira lição que devemos aprender e lembrar constantemente é que aqui não é nosso lugar permanente (Filipenses 3:20). Somos forasteiros e peregrinos aqui na terra. Sem a convicção da transitoriedade de nossas vidas aqui, fatalmente saímos da luta que temos. O Senhor constantemente “puxa nossas orelhas” como advertência dos perigos de vivermos espiritualmente dormindo. Claro que temos de trabalhar a fim de ter nosso sustento, mas o mundo nos impele a pensar como ele pensa e a viver como ele vive. Paulo lembra-nos disso numa passagem exortativa em 1tessalonicenses 5:8: “Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação”. Quais são os inimigos que enfrentamos a todo instante pelo caminho onde estamos a trilhar? São conhecidos por todos os verdadeiros crentes:
A CARNE: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26:41).
Esse é o inimigo que está em nós. Nossa natureza carnal está em nós enquanto estivermos nesse corpo pecaminoso de humilhação (Filipenses 3:21). Cristo nos libertou da escravidão do pecado e o Espírito Santo veio habitar em cada crente. Somos capacitados a vencer a carne e nada temos de dívida para satisfazer suas paixões (Romanos 8:12). A luta contra as investidas da carne é poderosa e chega muitas vezes de forma arrochada contra o crente, por isso é preciso andar continuamente alerta, vigilante e obediente ao Espírito (Gálatas 5:16).
O MUNDO: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo o amor do Pai não está nele” (1João 2:15).
Não esqueçamos que o mundo perdido no pecado “... jaz no maligno” (1João 5:19), está sob a liderança do seu príncipe (João 14:30), odeia Jesus e Seu povo (João 15:18). Diante desses fatos precisamos ficar andar cautelosos. O mundo é primeiramente o ódio de uma pessoa não salva contra Deus e contra Sua Palavra. Uma pessoa sem Deus é uma amostra do que é o mundo inteiro. Um crente que vive diariamente em companhia de uma pessoa não salva, tem o mundo perto dele. Judas na companhia dos apóstolos era a presença do mundo ali, manifestando seus intentos malignos.
O mundo é nosso inimigo porque seu sistema religioso é anti Deus: “Educando-nos, para que, renegadas a impiedade e paixões mundanas...” (Tito 2:12). Paulo ensina-nos que, levar-nos a escapar da impiedade mundana é um dos alvos da disciplina de Deus. Todo labor deste mundo tem em vista um viver ímpio, mostrando isso em suas idolatrias e apegos às mentiras e paixões. Mesmo que nos custe um alto preço de perder amigos e parentes, jamais devemos transigir com esse sistema que gasta seus bens e tempo naquilo que é apenas vaidade.
O mundo é nosso inimigo porque é corrompido em suas paixões: “Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procedem do Pai, mas do mundo” (1João 2:16). Vemos como em nossos dias estão dando ênfase a todo tipo de paixão. O mundo está cada vez mais perigoso em seu programa contra Deus e contra a lei de Deus. As autoridades estão criando leis que cancelam qualquer censura aos padrões morais que existiam antigamente.
Temos que lutar contra esse inimigo de Deus e do povo de Deus. Quando um crente está sendo arrastado pela mentalidade mundana, fatalmente perde o interesse pelas coisas espirituais. A fé verdadeira enfrenta com seriedade o mundo, resistindo-o com firmeza e confiança no Senhor.
O DIABO: “Sujeitai-vos, portanto a Deus e resisti ao diabo, e ele fugirá...” (Tiago 4:7).
Precisamos conhecer nosso arqui-inimigo pela Palavra de Deus. Satanás se esconde no mundo por meio das mentiras que ele mesmo inventa. Não temos qualquer razão de ignorá-lo, porquanto a Bíblia não o deixa oculto. Como seremos continuamente vitoriosos contra satanás? Resistindo-o por meio da verdade. Não existe outra maneira de vencê-lo. Satanás é o pai da mentira, sendo assim a única arma poderosa e eficaz contra ele é a Palavra da verdade. Nosso inimigo conhece nossos pontos fracos e ali tenta nos derrubar. Não temos qualquer desculpa, porque precisamos estar revestidos da verdade em nossos corações, obedientes em nossa atitude, a fim de que não sejamos pegos no orgulho próprio. Se não houver humilde disposição de andar com Deus, seremos vencidos pelas astutas ciladas do diabo.
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