UMA ABORDAGEM NO PRIMEIRO CAPÍTULO DE 1 JOÃO
O primeiro capítulo da primeira carta de João tem como propósito de exaltar a magnificência de Deus; engrandecê-Lo aos olhos de todos quantos terão o privilégio dado pela Graça de enxergar as maravilhosas doutrinas e exortações que virão à partir do capítulo 2.
No primeiro capítulo temos a estrutura montada para que seja salientada o que significa realmente COMUNHÃO NA FAMÍLIA DESSE DEUS. O propósito do Espírito Santo é gerar nos corações dos leitores profunda humilhação e respeito ao Deus Vivo e Verdadeiro para que não venham a brincar e profanar o lugar Sagrado de comunhão onde somente e tão somente filhos realmente nascidos na família de Deus podem beneficiar desse relacionamento Santo, eterno e maravilhoso.
Logo no início vemos João tomado de perplexidade ante a experiência de ter visto, contemplado e com as mãos apalpado o Verbo da Vida. O apóstolo se une aos seus colegas que tiveram as mesmas experiências, e suas palavras ressoam: “O que temos ouvido, o que temos visto com nossos olhos, o que contemplamos e com nossas mãos apalpamos”. O que o amado Apóstolo está querendo transmitir? Em outras palavras ele está dizendo: “Nós vimos Deus, o Deus cheio de Glória que no templo do Velho Testamento habitava entre os querubins no Santíssimo lugar; o Deus que fez com que grandes homens como Moisés, Josué, Davi, Isaías e muitos outros curvassem em temor e tremor perante Sua Glória e Majestade; esse Deus veio aqui em forma humana e nós presenciamos essa manifestação da Vida de Deus. Foi algo que mexeu com nossas vidas, e temos uma mensagem dEle para dar a todos”.
No verso 2 João fala que a Vida divina que aqui veio e se manifestou aos homens é o próprio Filho de Deus que estava em plena comunhão com o Pai. Está em pleno acordo com a oração do Senhor em João 17 quando Ele, Filho Glorioso reivindica a Sua Glória ao lado do Pai, Glória que sempre teve: “...Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a Ti.” (João 17:1).
O que estamos vendo no início do primeiro capítulo de João? Há um Pai e há um Filho na divindade, então há uma linguagem de família que nós seres humanos podemos entender; há uma perfeita comunhão de amor eterno entre essas duas pessoas. O Filho Honra o Pai numa atitude de submissão e obediência, enquanto o Pai demonstra todo Seu prazer no Filho: “...Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” (Mateus 3:17).
Tal verdade ressoa aos nossos ouvidos para trazer um impacto de temor e reverência perante o Deus que se revelou tabernaculando-se entre nós (João 1:14). Esse Filho Amado do Pai é a própria Vida Eterna que se manifestou neste mundo, tinha o propósito de trazer Vida Eterna a pecadores mortos em seus delitos e pecado (Efésios 2:1) e assim torná-los filhos de Deus pelo processo do Novo Nascimento (João 3:5). Observemos bem que esses filhos de Deus entrariam também nesse contexto de comunhão de amor a mesma que sempre houve entre o Pai e o Filho. Nosso Senhor demonstra isso na Sua oração em João 17. Na realidade essa comunhão dos Santos na família de Deus é apresentada à partir do cap. 13 do Evangelho de João onde nosso Senhor passa a comungar somente com os seus discípulos. Podemos simplificar esse ensino da seguinte maneira:
1. Cristo mostra que a comunhão da família de Deus é demonstrada em disposição de servir, sendo Ele mesmo o supremo modelo de humildade (Cap. 13).
2. Cristo mostra que a Ele viria habitar nos crentes com a vinda do Espírito Santo dando assim a assistência para uma liderança eficaz na comunhão contínua com Deus, (cap.14)
3. Cristo mostra que a comunhão dos santos com Ele seria manifestada na permanente ligação dos salvos unidos a Ele como a vara na videira para produzir fruto, algo que aconteceria pela obra da genuína fé produzida pela Palavra. Observemos bem que nosso Senhor está ordenando coisas que iriam acontecer à partir da vinda do Espírito Santo: “permanecei em mim; permanecei no meu amor” (cap. 15).
4. Nosso Senhor mostra a vinda do Espírito Santo como Consolador a fim de habitar nos salvos e trazer alegria infinda ao crente num mundo cheio de tristezas, angústias e dores (cap. 16).
5. Enfim, nosso Senhor perante o momento cruel quando seria entregue na cruz para ser propiciação pelos pecados de todos aqueles que o Pai lhe havia entregue na eternidade, já como que vislumbrando a glória de ter todos os salvos consigo para sempre,
- Roga ao Pai a unidade de todos os salvos na comunhão da família: “...a fim de que todos sejam um; e como tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós” (verso 21).
- Fala a respeito do amor do Pai em favor do Seu povo manifestado na eternidade, o mesmo amor que o Pai tem para com Seu Filho, fazendo com que sejamos participantes dessa gloriosa comunhão que sempre houve entre o Pai e o Filho: “...e os amaste, como também amaste a mim” (verso 23).
- Manifesta Seu anelo em ter os Seus consigo lá no céu para que conheçam a Sua Glória que lhe foi conferida pelo Pai na eternidade, para o gozo de uma infinita comunhão: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam comigo os que me deste, para que vejam a minha glória...” (verso 24).
- Fala a respeito do amor dEle que estaria nos salvos, dando base para que possam amar uns aos outros numa verdadeira comunhão pautada em santidade: “...a fim de que o amor com que me amaste esteja neles...” (verso 26). Todos os verdadeiros crentes tem o amor de Deus em seus corações.
Eis aí, em linguagem profética, um precioso e claro ensino de nosso Senhor Jesus a respeito da comunhão que todos os crentes viriam a ter. Essa é a comunhão que agora desfrutamos porque nosso Senhor conquistou com Sua morte na cruz essa preciosíssima bênção para que nós, homens pecadores, redimidos pelo Seu Sangue pudéssemos ser elevados à gloriosa posição de filhos de Deus, participantes da comunhão celestial. Realmente, o que vemos na primeira carta de João à partir do capítulo dois é Deus falando com esses filhos e orientando a respeito de como devem proceder neste mundo.
1 JOÃO 1- UM TRATADO DE SALVAÇÃO
Se pesquisarmos bem o capítulo primeiro da carta de João veremos que o propósito não é falar aos leitores como crentes, mas sim como seres humanos caídos no pecado e impossibilitados de terem comunhão com Deus por si mesmos. Notemos bem que o apóstolo começa a falar com os seus leitores como crentes à partir do capítulo 2. É ali que começa a usar a expressão “filhinhos meus”.
No primeiro capítulo, à partir do verso 5, João se une a todos os seres humanos para, não somente mostrar a incapacidade natural dos homens para tratar com seus pecados, como também mostrar quem é esse Deus glorioso que através do Filho preparou uma tão grande salvação que agora outorga aos pecadores que se achegam a Ele por meio de uma fé brotada em corações quebrantados: “ Porque todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo” (Romanos 10:13).
Os versos 6 a 10 ostentam mensagens “loucas e aterrorizantes” para a natureza orgulhosa dos homens. João em linguagem bem atual, está como que dizendo: “Olha, estamos afirmando que temos comunhão com esse Deus Santo? Então, paremos perante o altar de holocausto e não nos atrevamos a entrar e estar perante o Senhor da Glória. Recebi dele uma mensagem e quero transmitir a todos vocês. Talvez estejam iludidos pensando que podem participar da comunhão com esse Deus porque possuem Bíblia; porque fazem parte do rol de membros da igreja; porque cantam no coral; porque passaram pelas águas do batismo; porque são filhos de crentes, etc., e a mensagem é esta que se quisermos ter comunhão com Ele é preciso que andemos na luz”.
A verdade de tornar um partícipe da comunhão na família de Deus moveu o coração do escritor sagrado. Ele mesmo viu a Glória do Senhor naqueles Seus três anos de ministério, quando fora chamado para segui-Lo e ser um dos doze Apóstolos. A realidade é que não há qualquer ser humano que tenha vislumbrado um pouquinho da glória de Deus sem que caia em si ao descobrir o terror de sua própria miséria e condenação merecida. Somente o conhecimento da sua própria condição tão triste no pecado e da misericórdia de Deus é que faz o homem habilitado para dar o recado certo aos outros.
João traz a teologia correta a respeito de Deus; ele é um mensageiro fiel. Ele traz a água pura e cristalina da salvação para os que tem sede. Ele afirma sem qualquer titubeio que Deus é Luz. A verdade a respeito de Deus como sendo Luz é um ensino prático para nosso pobre entendimento. Qual é a função da luz, senão revelar o que está oculto? É uma declaração que Deus é o Deus da verdade.
EXAMINANDO 1 JOÃO 1:6-10
1. DEUS É LUZ: Ao falar de Deus como luz entendemos que:
A verdade a meu respeito será revelada perante a luz da Sua presença, nada ficará oculto: “...porque tudo que se manifesta é luz” (Efésios 5:13).
O que mais falta em nossos dias são pregações que ponham os pecadores perante a gloriosa verdade a respeito de Deus. Pouco vemos de luz jorrando dos púlpitos para pôr os homens perante o Deus de toda glória. O Deus da revelação bíblica é largamente desconhecido no meio evangélico hoje e deuses adaptados aos anseios da carnalidade humana tem surgido para trazer entretenimentos.
- A verdade a respeito da Sua santidade, que ele odeia o pecado, será revelado à luz da Sua presença, “...ai de mim! Estou perdido!...os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Isaías 6:5).
Pregadores temem afastar as pessoas dos cultos se pregarem o que Deus manda que Seus mensageiros preguem. Temem pregar todo conselho de Deus.
- A verdade a respeito do tratamento dEle com os Seus será revelado à luz da Sua presença, “...Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da Sua santidade” (Hebreus 12:10).
Os verdadeiros crentes são conduzidos pelo caminho da disciplina, porquanto o Pai celestial jamais deixará de evidenciar esse amor que corrige e assim leva o crente à maturidade.
- É em plena luz que Deus comunica com os Seus e Ele o faz através de Sua revelação escrita, “Lâmpada para meus pés á a tua palavra e luz para os meus caminhos” (Salmo 119:105).
Aquele que é de Deus ouve a Palavra de Deus. A falta de interesse pela palavra de Deus na vida é uma demonstração clara de que a pessoa nunca foi salva.
2. REQUISITO PARA TER COMUNHÃO COM ELE. (versos 6 e 7)
- Posso afirmar que tenho comunhão com Ele, mas se eu ando nas trevas estou afirmando com meus atos que desconheço o Deus da verdade que é Luz. Sendo assim estarei mentindo (verso 6) e como mentiroso não tenho a Deus como meu Pai, mas sim o diabo (João 8:44).
“Se dissermos que mantemos comunhão com Ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade”.
- Só posso ter comunhão com Ele se eu andar na luz, e ao entrar na luz por meio do Caminho certo, descubro que é ali que Deus tem a provisão para meus pecados mediante o sangue do Seu Filho, “Mas se andarmos na luz como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, Seu Filho nos purifica de todo pecado” (verso 7).
Obs. A expressão “uns aos outros” é a tradução da palavra grega “allêlon” que trata de relacionamento, mesmo que envolva apenas duas pessoas. Ela está usada, por exemplo, em Lucas 23:12, onde trata da reconciliação de dois inimigos, Herodes e Pilatos:
“Naquele mesmo dia, Herodes e Pilatos se reconciliaram, pois, antes, viviam inimizados um com o outro.
3. O PERIGO DE NÃO RECONHECER SEU PECADO (verso 8)
“Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos e a verdade não está em nós”.
O que João nos mostra nesse verso é uma atitude de ausência de confissão que se manifesta em milhares de pessoas. É o orgulho de não reconhecer no íntimo sua situação de perdido e condenado por ter nascido no pecado. Essa mordaz rebelião contra Deus, às vezes fica disfarçada de tal maneira que ninguém percebe. Se, perante o Deus de luz, eu, no íntimo, negar minha situação de um pecador, nascido no pecado, estarei enganando a mim mesmo, e tal atitude indica coração endurecido e conseqüentemente, ausência de confissão. Nunca devemos esquecer que Deus requer a verdade no íntimo e não na aparência (Salmo 51:6). O Deus da revelação deixou bem claro a respeito da minha situação como pecador culpado perante Ele:
4. O PECADOR QUE ENCONTRA A SALVAÇÃO (verso 9)
“Se confessarmos os nossos pecados Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”
O requerimento de Deus para o pecador sair das trevas para a Sua maravilhosa luz está na genuína confissão. A confissão é a maneira bíblica de Deus tratar o pecador. Nunca jamais qualquer pessoa poderá entrar na presença de Deus, sem que tenha um coração contrito e quebrantado que o leva ao reconhecimento de sua miséria e total desamparo, necessitado, não somente de perdão, como também de purificação. A verdadeira confissão encontrará o Salvador Fiel e Justo para perdoar (justificação) os pecados e purificar (regeneração) de toda injustiça.
5. O PERIGO DE NÃO RECONHECER MINHAS ATITUDES PECAMINOSAS (verso 10
“Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a Sua palavra não está em nós”
Aqui está outra manifestação do orgulho natural do homem. Milhares de pessoas estão achando que podem afirmar que são salvas, quando estão escondendo o mal no coração. Querem ir para o céu mas não querem abandonar seus pecados de estimação os quais estão bem guardados. Querem o “ingresso gratuito” para entrar na Nova Jerusalém, mas aqui querem desfrutar da idolatria da “doce Babilônia”, e dos manjares deliciosos que o “Egito” oferece.
A verdade é, que, se perante a luz reveladora da palavra de Deus; perante a justa e perfeita lei do Altíssimo, eu negar que tenho cometido pecado; se eu achar justiça em mim mesmo, apesar de afirmar que sou pecador, mas que não tenho cometido qualquer pecado que me caracteriza como um miserável e condenado, indica também ausência de confissão, e estarei assim chamando Deus de mentiroso, declarando que sua lei também é mentirosa e tenho assim um coração endurecido e fechado para Sua palavra:
Eis aí uma breve exposição desses versos onde claramente podemos aprender que a salvação de um pecador contrito e quebrantado o introduz na família de Deus, onde ele se torna partícipe de uma contínua e ininterrupta comunhão com esse Deus que agora se tornou o seu Pai. Porém, estou certo que esta singela explicação não foi suficiente para mostrar o fundamento certo de que não há possibilidade de o crente perder a comunhão com Deus, por isso desejo esclarecer alguns pontos importantes do texto em pauta.
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