quarta-feira, 1 de agosto de 2012

PODE O SALVO PERDER A COMUNHÃO COM DEUS? (2)


SALVAÇÃO ETERNA

         Quero acentuar e assim deixar bem transparente que creio e confesso a doutrina da segurança do salvo. Nossa salvação é eterna, dura para sempre, “...a minha salvação durará para sempre.” (Isaías 51:6). A respeito de Suas ovelhas Cristo diz: “...Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão eternamente...” (João 10:28). Creio no poder justificador do sangue do Cordeiro de Deus que trouxe aos crentes a justificação que os livrou da Ira (Romanos 5:9), e que por causa dessa perfeita Justiça de Cristo em nós “...temos paz com Deus...(Romanos 5:1). Creio que essa poderosa Salvação tornou os crentes em filhos de Deus (João 1:12), e assim trouxe a bênção da comunhão que, sendo um resultado dessa tão grande Salvação, possibilita todos os salvos desfrutar do doce convívio da presença de Deus em seu viver por serem partícipes da família de Deus.
Temos passagens em abundância que tratam dessa salvação conquistada pela força operante da Soberana Graça na qual todos os verdadeiros crentes estão firmes, e por isso podem se gloriar “na esperança da Glória de Deus” (Romanos 5:3). Porém, no que tange a comunhão com nosso Pai eterno não há nenhum verso que afirma que o crente perde a comunhão com Deus. Você poderá replicar, abruptamente, com o conhecido verso de 1 João 1:7: “Mas se andarmos na luz como Ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo Seu Filho nos purifica de todo pecado”. Mais adiante pretendo apresentar uma explicação de 1 João no primeiro capítulo como uma passagem que trata primariamente, não de comunhão como comumente é ensinado naquele tão conhecido capítulo, mas sim, de uma salvação que introduz o pecador a uma ininterrupta comunhão com o Deus Santo.

AS HERESIAS MODERNAS

Um evangelho frouxo, barato e que vive capengando diante do poderio da apostasia e do ecumenismo do mercado religioso de nossos dias, tem buscado meios para facilitar que falsos crentes vivam no pecado e ainda carreguem sobre si o nome de “cristãos”. Quanta vergonha e aviltação tem trazido para a causa do verdadeiro evangelho! Quanta profanação tem sofrido o Glorioso Nome do Senhor! Nessa atmosfera é que vemos muitos segurando firmemente a confissão de que estão salvos porque “ fizeram uma decisão de aceitar Jesus como Salvador”, e que por isso vão para o céu. Suas vidas, entretanto,  negam isso porque o mundanismo, falta de zelo e de interesse pelas coisas de Deus e outras manifestações de carnalidades mostram claramente que tais indivíduos jamais conheceram o poder transformador da Graça de Deus.
O ensino de que o crente não perde a salvação, mas perde a comunhão com Deus, tem sobrevindo para tapar essas “brechas” que arruínam a Casa do Deus Vivo. Tais pessoas estão plenamente satisfeitas com  “o ingresso gratuito” recebido de Deus para entrar no céu, e assim estão sentindo o conforto de trilharem para a Nova Jerusalém numa vereda cheia de rosas e sem nenhuma preocupação, mesmo estando “fora da comunhão com Deus”, ficando a critério delas o retornar à essa comunhão quando bem quiserem.
É óbvio que são muitos os verdadeiros santos de Deus que sustentam esse ensino e  levam a comunhão com Deus como algo sério. Essas pessoas sofrem no íntimo quando sabem que entristeceram ao Senhor. Porém, afirmo que tal ensino, por não ser verdadeiro, só pode trazer prejuízo para os santos do Senhor, porquanto lança fora o verdadeiro ensino a respeito da condição pecaminosa do crente ainda em seu corpo mortal conforme ensina Paulo em Romanos 7, e obscurece a doutrina acerca do amor de Deus em favor daqueles que agora são seus filhos e da maneira que Ele trata esses que, em Cristo, se tornaram pertencentes a Ele pela obra do Novo Nascimento.  Tal ensino revela Deus como um Pai patético, descontrolado, cujos filhos foram entregues a si mesmos para envergonhar o Pai; vemos esse Pai à espera de que Seus filhos rebeldes venham continuamente a pedir-lhe perdão e assim restabelecer a comunhão com Ele.
Algumas perguntas importantes surgem: Quais são os critérios     que regram essa comunhão? São todos os tipos de pecados que levam à quebra da comunhão, ou são aqueles que são mais “feios” que afastam o crente da fulgurante luz da presença de Deus? Há algum momento em que o crente pode ficar completamente isento do pecado, ou o crente é aquele que tem contínua consciência de sua pecaminosidade uma vez que ainda habita num corpo pecaminoso? Creio eu que tal ensino também impulsiona os santos de Deus para a tão procurada “segunda bênção” propagada em nossos dias.

UM DEUS QUE OPERA SUA VONTADE

Mas não é esse o ensino bíblico, pelo contrário, vemos um Deus que, com amor eterno age e continuamente vai agir na vida de cada um daqueles que pela Graça veio a lhe pertencer. O mesmo Deus que agiu soberanamente em nossa salvação, é o Deus que mantém sua ação Soberana na vida do Seu povo: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13), sem que esqueçamos que também se espera que a própria Graça concede aos filhos a atitude de obediência que os capacita a desenvolver a salvação com temor e tremor (Filipenses 2:12).
 Não somos filhos bastardos, mas sim legítimos, que estão debaixo do amor perfeitamente disciplinador de um Deus que tudo preparou tendo em vista conformar esses filhos à imagem de Jesus Cristo (Romanos 8:29).Esse Deus não está, de modo algum submetido à nossa vontade; de maneira alguma se encontra à espera de nossa obediência, pelo contrário, somos filhos de um Pai que nos educa “...para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos no presente século sensata, justa e piedosamente” (Tito 22:12); não somos filhos entregues à si mesmos para causar vergonha ao nosso Senhor, porquanto todos os crentes são chamados de “filhos da obediência” (1 Pedro 1:14), sendo assim Ele guia-nos “...pela vereda da justiça por amor do Seu Nome” (Salmo 23:3).

AS DÚVIDAS APARENTES

Adianto-me para esclarecer de que não estou defendendo a impecabilidade dos crentes, porquanto não somente é um ensino contrário às Escrituras como também está longe da experiência de todos os crentes sinceros. O verdadeiro cristão habita num corpo pecaminoso e pode dizer juntamente com Paulo: “Miserável homem que eu sou, quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7:24).
Todos os sinceros crentes sabem bem o que significa na experiência a perda da alegria; todo genuíno crente tem passado, de uma forma ou de outra pelas perseguições implacáveis de satanás, quando parece que trilha uma vereda de escuridão e que Deus está infinitamente distante não se importando com as aflições que lhe cercam,  e nem sequer interessa em atender-lhe as suas necessidades. Todo sincero filho de Deus tem experimentado a pressão ocasionada pelo pecado tentando lhe empurrar para agradar a carne, os olhos e a soberba da vida, e os tropeços e escorregões que lhe levam ao choro e muitas vezes ao desespero; sabe bem o que significa transitar pelo caminho estreito que conduz à vida; sabe que é no meio das tempestuosas tribulações, e das obscuridades desta vida transitória que importa entrar no reino de Deus (Atos 14:22).
Enfim, todos os crentes em nada podem orgulhar de qualquer perfeição nesta vida, pelo contrário, estão cientes de que precisam fugir da soberba (Salmo 19:13) e que precisam continuamente da graça para viver. Quantos, como o rei Davi, já tropeçaram e tiveram que lamentar perante Deus as suas misérias causadas pelas conseqüências do pecado, mas que foram levantados pelo poder de Deus! Mas isso acontece justamente porque eles trilham a vereda do justo na comunhão com Deus. É na luz da comunhão com Deus que vemos o que somos na nossa miséria natural e que precisamos da Graça para nos socorrer; que pela graça de Deus somos o que somos, conforme aquilo que o Senhor falou para o Seu servo, o apóstolo Paulo (2 Coríntios 12:9).
Longe também estou de espalhar o ensino de que nenhum crente tem qualquer responsabilidade no seu andar enquanto aqui viver. Deus em Sua graça os libertou da escravidão do pecado e os tornou obedientes, sérios e dispostos no caminho estreito. Eles amam o Senhor e em nada almejam desagradar-Lhe. Se é assim numa família onde os filhos são amados pelos seus pais, e o normal é que eles os respeitem e lhes obedeçam, muito mais na família de um Deus que revelou tanto amor pelos Seus.

                                               ONDE DEVO CHEGAR
Bem, até esta altura você pode estar argumentando que tudo o que foi dito até agora são coisas acerca das quais você está bem inteirado e de que nenhuma luz viu que pudesse mostrar que estou certo em minhas convicções que o salvo jamais pode perder a comunhão com Deus. Mas anelo agora, pela graça, apresentar meus argumentos e para isso procurarei ser zeloso naquilo que a  palavra de Deus apresenta.
. A passagem que é usada comumente como fundamento para apresentar o ensino que o crente pode perder a comunhão com Deus é 1 João no primeiro capítulo à partir do verso 5. Certamente tem outras passagens bíblicas usadas para fortalecer, mas o texto que dá base sólida para tal ensino está em 1 João 1. É óbvio que desde o início João está tratando da comunhão com Deus, e o apóstolo mostra que Deus é luz e para que tenhamos comunhão com Ele é preciso andarmos na luz.
O argumento usado é que quando o salvo está andando em desobediência, com pecado encoberto no seu viver, fatalmente perde a comunhão com seu Deus, e a única forma de restaurar essa comunhão é confessando seus pecados para obter o perdão e a purificação do Justo Senhor, e assim novamente terá essa comunhão restabelecida, conforme o verso 9: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.

                               A COMUNHÃO CONFORME 1 JOÃO
        Aqueles que estão inteirados no conhecimento da primeira epístola de João podem perceber que é a carta da família de Deus. O Espírito Santo usa a linguagem de João para revelar o carinho, afeto, ternura e intimidade de uma família onde o Pai é cheio de amor: “filhinhos, amados, amor, o pai, etc.” Numa família todos seus membros tem comunhão. Um pai que ama tem o melhor e quer o melhor para todos seus filhos, não importando a quantia de filhos. Meu pai amava todos os seus treze filhos e prezava a comunhão de todos dentro da família. Eu me lembro o quanto eu e meus irmãos o respeitávamos.
A família de Deus é assim de maneira perfeita, porquanto estamos lidando com aquele que é perfeito. Deus tem milhares de filhos no mundo inteiro, e Cristo fez propiciação por todos eles (2:2); são amados por Ele, partícipes da casa dEle, envolvidos numa plena, transparente e comunicativa comunhão. Nenhum dos salvos está fora dessa bênção eternal que o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo nos outorgou, (Efésios 1:3). Todos são tratados com o mesmo amor, afeto e ternura de um Pai perfeito que numa linguagem humana transparece isso, fazendo com que os corações dos santos fiquem cheios de júbilo.
Todos os santos não somente podem entender essa carta como também eles amam essa pequena mas tão gloriosa carta enviada pelo Espírito de Deus para os salvos em todas as épocas da existência da igreja e em todos os lugares. Seus nomes não aparecem numa lista como vemos com o povo de Israel no Velho Testamento, mas estão no coração daquele que é nosso perfeito Advogado (2:1); estão arrolados no Livro da vida e são amados pelo Pai (3:1), que lhes outorgou a eterna bênção de filhos pelo processo do Novo nascimento (3:9).
         Em 1 João vemos nítida diferença entre a família de Deus que é constituída por aqueles que nasceram de Deus, e a família que não pertence a Deus. Aquela é conhecida pelo amor de Deus que pode ser mostrado no trato de uns para com os outros (3:14), esta é conhecida não somente pelo constante ódio no trato mútuo como é visto na sociedade incrédula, como também na maneira odiosa e desdenhosa que trata os verdadeiros crentes. (3:11-15), exatamente como Caim manifestou sua ira assassina contra Abel.
         Muito mais poderia ser dito a respeito dessa tão maravilhosa epístola em toda sua estrutura  formosamente preparada pela perfeita habilidade do Seu autor, mas não é esta a finalidade aqui. Porém, um pouco de luz a respeito da carta em geral fará com que entendamos o propósito do primeiro capítulo.


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