quinta-feira, 5 de abril de 2012

BENÇÃO E MALDIÇÃO (10)



Mas, ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação” Lucas 6:24
OS RICOS: (continuação)
         Prezado leitor, até agora tenho procurado mostrar através dessa série de mensagens nesse texto bíblico o contraste entre o “rico” e o “pobre” conforme a linguagem usada por nosso Senhor. Já pudemos ver o que significa ser “pobre”. Trata-se do estado em que se encontra uma alma que se vê longe de Deus e da glória de Deus, completamente sem recurso espiritual, nada tendo do Reino de Deus. O Senhor Jesus afirma que tal pessoa é alguém bem-aventurada porque essa é a pessoa que Ele veio buscar e salvar para torná-la herdeira do Reino celestial, pois pelo novo nascimento torna-se Filho de Deus. A pessoa “rica” apresenta exatamente o contrário daquele que é pobre. Jesus dirige-se a essa pessoa dizendo: “Ai de vós”. Na meditação anterior procurei definir que ser “rico” é quando o pecado ainda reina no coração do ser humano endeusando-lhe o ego, enchendo-lhe o coração com a vanglória de ter o mundo inteiro para si, conforme nosso Senhor falou.
         Com a graça de Deus quero tentar definir o sistema de vida daquele que é “rico”. O propósito aqui é que o leitor, sendo confrontado pela autoridade da Palavra, venha saber em que situação encontra-se diante de Deus. Não esqueçamos que um dia teremos de comparecer perante a face do Grande Deus. Se já houve salvação então a pessoa é alguém que era “pobre”, mas que foi feito “rico”, herdeiro do Reino do céu. Se, porém, a pessoa está andando nas trevas do pecado, no íntimo é alguém cheio da riqueza amaldiçoada por Deus. Não esqueçamos que somos vistos por Deus no íntimo e não na aparência. Estamos completamente descobertos perante o Onisciente, portanto é mui salutar achegar perante a confrontadora Palavra da verdade, ciente que humilhado no íntimo o pecador encontrará perante a face do Deus que usa de misericórdia com pecadores arrependidos. Se, pelo contrário, houver um endurecimento contra Deus, fatalmente encontrará da parte Dele completa resistência.
         Como é o viver do “rico”? Vimos na meditação anterior, o “rico” é aquele que ama sua vida, chamada na bíblia de vida natural (1Coríntios 2:14), e não quer perder essa vida. Jesus disse claramente que quem amar essa vida aqui haverá de perdê-la. A vida natural consiste em viver daquilo que recebemos no nascimento. Quando nascemos um dia, adquirimos a chamada vida natural, isto é vida da natureza. Herdamos apenas uma capacidade e disposição de desfrutar daquilo que é daqui e que morrerá aqui. A natureza do pecado que é completamente enganosa e enganada faz com que a alma fique iludida ao pensar que o maior bem está em aproveitar dessa vida natural.
         Há um encanto ilusório que faz com que o pecado venha encher os olhos de satisfação com tudo o que esta vida aqui oferece. Além do mais Satanás tem pintado seu mundo de vivas cores para dar aos corações uma expectativa de que aqui é o verdadeiro paraíso que o homem deve buscar. Habitando no corpo humano, o pecado faz com que as paixões se tornem extremamente satisfatórias. Cada dia é mais um dia para viver no pecado sentindo na carne e nos olhos a brevíssima recompensa que o homem recebe, sempre na expectativa de que o amanhã será ainda melhor do que aquilo que hoje recebera. A vida natural ainda fornece a alma uma sensação de que a pessoa subirá aos mais altos degraus das recompensas que esta vida oferece. A bíblia chama isso de soberba da vida.
         Não podemos avaliar a situação pervertida na qual o homem se encontra quando ainda é visto por Deus como um “rico”. Minha linguagem é mui pobre para aqui tentar expor a profundidade do mal que envolve a corrupção do coração humano. Em Jeremias 17:9, Deus afirma que o pecado no homem está gravado nas paredes de seu coração com ponteiro de ferro. Não há poder nenhum entre os homens que possa arrancar o pecador desse estado no qual o pecado lhe colocou. Somente o Senhor Jesus pode fazer isso. Ele é o Grande vencedor e destruidor do pecado.

        Aprofundando um pouco mais em conhecer o que significa o viver que leva a pessoa que Jesus intitula de “rica” no texto lido, digo e afirmo que a vida chamada de “vida natural” ou vida da natureza, tem em si certo lampejo de conforto e de segurança. Há um sentido de segurança numa família, na saúde, no dinheiro, enfim, em tudo aquilo que a sociedade humana pode oferecer. Os olhos naturais podem ver o que acontece no dia; os ouvidos podem ouvir a respeito das providências dos homens para que tudo venha a melhorar futuramente.
         Há também um sentimento de certa paz em torno da vida natural, de que sempre haverá a chuva que cai; que o sol brilhará normalmente em seu horário previsto; que a noite chegará para que haja um descanso merecido. Na vida natural não há qualquer expectativa de eternidade, pois a pessoa assim só pode pensar e agir conforme aquilo que é visto debaixo do sol. Além do mais, o homem natural sente-se como se tivesse direito de usufruir de tudo aquilo que este mundo oferece, esta vida é o melhor que ele pode ter; nesta vida ele pode construir seu paraíso, porquanto o engano do pecado afirma ao seu coração que o mundo inteiro está ao seu dispor; que é tudo dele; ele foi elevado às alturas da soberba da vida e de lá ele pode ver o que tudo o que o dono deste mundo lhe oferece em troca do seu serviço.
         A pessoa “rica” conforme a linguagem usada por nosso Senhor tem suas riquezas em torno de três coisas: Paixão da carne, paixão dos olhos e soberba da vida. Essas três maravilhas promovidas por este mundo estão alojadas no santuário do seu coração. Uma vez que esses três pináculos foram erigidos no santuário do seu coração, o que acontece é que todo seu corpo é usado e funciona para usufruir dessa riqueza. Ele apresentou seu corpo, por assim dizer, em sacrifício vivo para cultuar ao deus deste mundo. Ele quer aproveitar o máximo dessa vida, porquanto está morto para Deus, mas vivo para esta vida aqui. Toda sua correria e agitação são porque tem o mundo inteiro gravado nas tábuas do seu coração. Toda sua capacidade mental será usada para armazenar mais informações deste reino passageiro; seus olhos ficarão sempre fascinados com aquilo que para ele é tão belo; sua boca será usada para falar somente daquilo que vem do seu coração iludido; suas mãos servirão para trabalhar no progresso deste lugar; seus pés trilharão o caminho que toda multidão segue, o caminho largo.
         Aquele que é chamado de “rico” na linguagem usada por nosso Senhor desconhece o que significa contentamento diante de Deus, porque tendo o mundo inteiro alojado em seu interior, ele se sente não somente como se fosse um deus, como também imagina que tudo é para si e deve serviço a ele. Ele ambiciona mais lucros desta vida e nunca se sentirá satisfeito, porquanto o deus mamon nunca o deixará realizado. O império deste mundo com suas maravilhas exibidas aos olhos do “rico” por meio daquele que é o Príncipe das trevas são demasiadamente grandes e além de tudo ilusório. Os olhos do “rico” nunca dirão “basta”. Judas foi conduzido nesse espírito de “rico na alma”, e foi engambelado no íntimo até que pegou toda riqueza sonhada em suas mãos para descobrir tardiamente que era puramente engano. Aquilo estava agora lhe queimando na consciência de tal maneira que lhe empurrou para o abismo eterno. Nunca o “rico” deste mundo estará satisfeito, porque cada dia é um dia diferente no qual ele será mantido como prisioneiro do engano do pecado.
         Os três pináculos erigidos em seu coração: A paixão da carne, dos olhos e a soberba da vida alimentam a ilusão de que tudo há de melhorar. Porém, enganado, iludido, ele não sabe que a soberba da vida está lhe empurrando para o mais profundo das paixões da carne e dos olhos. A situação é profundamente enganadora. O “rico” na alma gostaria de ser ele o único no mundo a fim de poder possuir tudo, por isso é que seus pés são velozes para derramar sangue, isto é, tem que ser tirado de sua frente todo aquele que posicionar contra ele.


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