Spurgeon
“O espírito é o que vivifica; a carne
para nada aproveita” (João 6:63)
Para um leitor desavisado parecerá que
o sentido dessa passagem está à superfície, mas que estudou a capítulo verá que
a sentença está repleta de dificuldades quanto à sua interpretação. Todavia,
não tomarei o tempo de vocês entrando numa discussão crítica do texto; tentarei
dar-lhe o que penso que o Espírito tinha em mente quando Jesus pronunciou esta
frase. Depois voltarei para o sentido que acho que seria dado por alguém que
não estuda muito a Bíblia. Se eu estiver certo, mesmo que não seja esta a
verdade da passagem, irei demorar-me um pouco nisto.
“O espírito é o que vivifica; a carne
para nada aproveita” Acho que no mundo inteiro não há quem consiga formar uma ideia
inteligente do que seja um espírito. É muito fácil definir um espírito dizendo
o que ele não é, mas eu duvido se existe alguém que possa formar uma ideia do
que ele é. Às vezes falamos sobre ver um espírito; pessoas ignorantes de tempos
idos, ou aldeões atrasados de hoje, dizem que viram espíritos a noite. Eles
devias saber que estão se contradizendo. Coisas materiais podem ser vistas, mas
um espírito, mesmo se vestisse com alguma substância leve, não pode ser visto;
só veríamos a substância. O espírito é algo que não pode ser tocado, visto,
cheirado ou percebido de outra forma pelos sentidos; se fosse seria a prova de
que não era um espírito, mas algo material. Dividimos todas as coisas em
matéria e espírito, e tudo o que pode ser reconhecido pelos sentidos é matéria,
você pode ter certeza. Um espírito é sutil demais para ser visto ou ser
percebido por algum outro sentido. Por isso digo que não existe ninguém em
nosso estado mortal que poderá definir o que é um espírito, só pode dizer o que
não é.
Existe um lugar onde os espíritos
habitam sem corpo: é certo que no mundo futuro, no estado que se interpõe entre
a morte dos santos e o dia da ressurreição, eles permanecem diante do trono de
Deus sem corpo – espíritos puros sem nenhum corpo. Pode ser que os anjos tenham
algum tipo de corpo; não poderíamos imaginar o que são os anjos se eles não
tivessem alguma forma ou aparência, mas é bastante certo que os santos diante
do trono não têm nenhuma forma ou rosto. São espíritos puros, seres cuja
substância não conseguimos imaginar; são sem mácula e sem matéria. Na terra
você não vai encontrar um espírito puro. Todos nós somos espíritos dentro de um
corpo e, de alguma forma, pelo fato de que almas e espíritos são sempre
encontrados em corpos, confundimos corpos e espíritos. Entretanto, devemos
sempre estar cientes que corpos e espírito são distintos; mesmo que Deus não
tenha feito nenhum espírito sem uma casa onde morar, uma casa chamada corpo,
este não é o espírito. “O espírito é o que vivifica; a carne para nada
aproveita”.
Você vai concordar facilmente comigo
que ninguém sabe dizer onde no corpo humano está a vida. Em vão o cirurgião
coloca um cadáver sobre a mesa e o disseca; ele não vai encontrar a vida nem no
cérebro nem no coração. Ele pode cortar o corpo em fatias da forma que quiser –
não encontrará nada que possa tocar, segurar e dizer: “Isto é vida”. Ele pode
ver todos os efeitos – os membros que se movem, as manifestações da vida
causadas por algo sobrenatural, mas a vida ele não pode ver. Ela está
totalmente fora do alcance da sua visão e, depois de procurar o quanto quiser,
ele põe o bisturi de lado e diz: “Não adianta procurar mais; há um espírito que
aviva este corpo; para a procura da vida esta carne não me serve de nada. Eu
poderia da mesma forma procurar uma alma em uma pedra ou em uma das colunas que
sustentam este prédio; não acharei nada se estiver procurando algo que se pode
ver, tocar, cheirar, sentir gosto ou de qualquer outra forma distinguir e
descrever um espírito”.
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