terça-feira, 18 de novembro de 2014

RELIGIÃO ESPIRITUAL (1)


Spurgeon
         “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita” (João 6:63)



         Para um leitor desavisado parecerá que o sentido dessa passagem está à superfície, mas que estudou a capítulo verá que a sentença está repleta de dificuldades quanto à sua interpretação. Todavia, não tomarei o tempo de vocês entrando numa discussão crítica do texto; tentarei dar-lhe o que penso que o Espírito tinha em mente quando Jesus pronunciou esta frase. Depois voltarei para o sentido que acho que seria dado por alguém que não estuda muito a Bíblia. Se eu estiver certo, mesmo que não seja esta a verdade da passagem, irei demorar-me um pouco nisto.         
         “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita” Acho que no mundo inteiro não há quem consiga formar uma ideia inteligente do que seja um espírito. É muito fácil definir um espírito dizendo o que ele não é, mas eu duvido se existe alguém que possa formar uma ideia do que ele é. Às vezes falamos sobre ver um espírito; pessoas ignorantes de tempos idos, ou aldeões atrasados de hoje, dizem que viram espíritos a noite. Eles devias saber que estão se contradizendo. Coisas materiais podem ser vistas, mas um espírito, mesmo se vestisse com alguma substância leve, não pode ser visto; só veríamos a substância. O espírito é algo que não pode ser tocado, visto, cheirado ou percebido de outra forma pelos sentidos; se fosse seria a prova de que não era um espírito, mas algo material. Dividimos todas as coisas em matéria e espírito, e tudo o que pode ser reconhecido pelos sentidos é matéria, você pode ter certeza. Um espírito é sutil demais para ser visto ou ser percebido por algum outro sentido. Por isso digo que não existe ninguém em nosso estado mortal que poderá definir o que é um espírito, só pode dizer o que não é.
         Existe um lugar onde os espíritos habitam sem corpo: é certo que no mundo futuro, no estado que se interpõe entre a morte dos santos e o dia da ressurreição, eles permanecem diante do trono de Deus sem corpo – espíritos puros sem nenhum corpo. Pode ser que os anjos tenham algum tipo de corpo; não poderíamos imaginar o que são os anjos se eles não tivessem alguma forma ou aparência, mas é bastante certo que os santos diante do trono não têm nenhuma forma ou rosto. São espíritos puros, seres cuja substância não conseguimos imaginar; são sem mácula e sem matéria. Na terra você não vai encontrar um espírito puro. Todos nós somos espíritos dentro de um corpo e, de alguma forma, pelo fato de que almas e espíritos são sempre encontrados em corpos, confundimos corpos e espíritos. Entretanto, devemos sempre estar cientes que corpos e espírito são distintos; mesmo que Deus não tenha feito nenhum espírito sem uma casa onde morar, uma casa chamada corpo, este não é o espírito. “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita”.
         Você vai concordar facilmente comigo que ninguém sabe dizer onde no corpo humano está a vida. Em vão o cirurgião coloca um cadáver sobre a mesa e o disseca; ele não vai encontrar a vida nem no cérebro nem no coração. Ele pode cortar o corpo em fatias da forma que quiser – não encontrará nada que possa tocar, segurar e dizer: “Isto é vida”. Ele pode ver todos os efeitos – os membros que se movem, as manifestações da vida causadas por algo sobrenatural, mas a vida ele não pode ver. Ela está totalmente fora do alcance da sua visão e, depois de procurar o quanto quiser, ele põe o bisturi de lado e diz: “Não adianta procurar mais; há um espírito que aviva este corpo; para a procura da vida esta carne não me serve de nada. Eu poderia da mesma forma procurar uma alma em uma pedra ou em uma das colunas que sustentam este prédio; não acharei nada se estiver procurando algo que se pode ver, tocar, cheirar, sentir gosto ou de qualquer outra forma distinguir e descrever um espírito”.



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